15.1.11

Durma com esse barulho

A situação financeira do brasileiro melhorou nos últimos anos. Não é um comentário a favor do governo Lula; que descaradamente impune às denúncias de corrupção continua no poder com a agora presidente, Dilma; mas uma constatação infeliz.

Sou contrário à melhoria do padrão de vida do brasileiro? Claro que não, afinal eu sou um deles e quero um pedrão de vida melhor. Trabalho para isso e pago dezenas de impostos em cascata e tributos dos mais diversos, que vão para o bolso de alguém e não retornam em serviços públicos de qualidade, como saúde, segurança e educação.

Este último, aliás, um ítem que anda muito esquecido. É comum ouvir as pessoas dizendo que "para o Brasil melhorar, é preciso investir em educação". O que todos esquecem, e incluem-se aí todos os defensores de uma educação pública de qualidade, é que educação começa em casa.

O ensino público precisa sim, de uma reforma urgente, de professores mais bem preparados e melhor remunerados. Mas isso depende de milhões de outros fatores para acontecer. Enquanto isso, existe um outro lado da educação que está completamente esquecida e, aparentemente, à medida que a situação financeira melhora, esse quadro se torna ainda pior.

Hoje temos uma economia bastante estável. A inflação existe, mas ainda não se descontrolou. Pode vir a acontecer em breve, mas ainda se sustenta em um patamar controlável. Essa estabilidade econômica, aumenta o poder de compra e com a enxurrada de produtos de baixa qualidade e preço no mercado, o poder de compra é ainda maior.

O que isso tem a ver com educação? Simples. Hoje podemos perceber em qualquer lugar, pessoas com um carro em que há um potente sistema de som instalado (o que não significa qualidade de som, apenas potência sonora) e que se julgam no direito de usá-lo a toda potência em qualquer lugar e horário.

Ora, se eu posso comprar e instalar eu posso usar. Sim e não. Aqui vale lembrar o ditado "seu direito termina onde começa o do outro". E isso é a base da educação: respeito.

Respeito às leis.
Respeito aos limites.
Respeito às pessoas.

Reclame com um viznho barulhento e peça para que abaixe o som e ele provavelmente responderá que "eu estou na minha casa e ouvindo o meu som". E ele realmente tem esse direito, o qual defende aos brados inconformados com a petição alheia. O que ele não lembra é que o vizinho tem o direito ao silêncio e a realizar seus afazeres, sejam domésticos, profissionais ou de lazer, sem interferência externa.

As pessoas tem direitos e querem se valer deles, mas se esquecem dos deveres. Querem respeito sem respeitar ninguém.

Isso pode ser notado em qualquer posição social. O som exageradamente alto pode ser notado em Fuscas e Gol dos modelos mais antigos até em Audis e BMWs de último modelo. E essa educação deveria ser dada em casa.

Houve um tempo em que eu via apenas os mais favorecidos tendo atitudes como essa. Era um comportamento de "playboy", "mauricinho", ou qualquer outro adjetivo para os filhos abastados da alta sociedade.

E vi, um sem número de vezes, mães e pais dos mais simples, repreendendo seus filhos quanto à atitude e exigindo deles respeito ao próximo. "Nós somos pobres, mas temos educação!"- disse uma mãe ao filho que fez uma malcriação a uma senhora que passava e o fez pedir desculpas à senhora.

Hoje eu vejo exatamente o oposto. A regra é não respeitar ninguém. Compre um aparelho de som, mesmo que seja chinês e de péssima qualidade, mas que tenha potência suficiente para ser ouvido a 4 casas de distância na sua rua, e ligue na potência máxima.

Vai ao Shopping? Não perca tempo procurando vaga. Pare na vaga dstinada a idosos e a deficientes físicos. Lembrando que a vaga de deficientes não é para quem leva um deficiente no carro, mas aos deficientes que dirigem e portanto não contam com auxílio para descer do carro e se deslocar até o shopping.

Mude de faixa sem usar a seta (ou pisca-pisca), de preferência com o braço para fora e o mais rente possível ao carro que está na faixa de destino, a popular "fechada". Ou então ande na faixa da esquerda, destinada apenas à ultrapassagem, e de preferência em uma velocidade abaixo da máxima permitida. Ao ver pedestres chegando à faixa de pedestres, acelere. Essa também vale para quando você vê um motorista com a seta ligada indicando que vai mudar de faixa. Acelere para que ele não tenha espaço.

Essas são algumas das atitudes que eu só posso classificar como uma estupidez sem tamanho. Para que algo realmente mude, o brasileiro precisa parar de se lembrar apenas dos seus direitos (e nem isso consegue respeitar, já que tenta transformar em direito seu o que é trantorno aos outros) e se lembrar dos seus deveres.

A boa eduação começa em casa. Respeito aos mais velhos, aos professores, às leis, às regras de forma geral, às pessoas. São detalhes que fazem toda a diferença. E quando tiverem a consciência dos seus deveres, e conseguirem cumprir essas regras tão simples, aí sim, terão razão em defender seus direitos.